Tem gente que acha que a gente que é biscate não sofre por amor.
A gente sofre, sim. E chora. Ou não chora.
E sofre, por nós e pelos outros. A gente se chama de biscate, e tira do outro o gostinho de achar que ofende, mas a gente se entristece com gente que fecha os olhos. Com gente que nega alegrias. Que nega amor, que nega amizade.
A gente sofre por amor, a gente sofre por ver o preconceito e a discriminação ainda fazerem vítimas. A gente se engaja, as vezes, só do sofá, as vezes, saindo para a rua, as vezes, só militando em nossos círculos mais restritos.
A gente sofre quando vê a miséria física, explicitada em crianças nas ruas. Quando vê a miséria espiritual, sangrando nas páginas policiais.
Eu sofro quando vejo o outro sofrer. Eu me importo.
E a gente sofre quando o Outro, aquele que um dia nos teve nos braços, vai embora, leva tudo de si, tenta apagar toda e qualquer lembrança. Tenta contaminar, quem sabe sem querer, toda lembrança boa, tudo que poderia ter ficado, ou que poderia ter sido.
Mas a gente vai e chora, e cai em outros braços. Braços de amigos ou braços de amantes.
E de repente, ela está ali.
Felicidade.
Outro dia acordei assim, de um sonho no meio do sonho, e sonhei com um beijo e um afago.
Mas não eram os dele. Já não era sem tempo.
Saudade tem fome, se a gente não alimenta, ela míngua.
Estou matando a minha de outros sabores, alimentando outras vontades.
Estou viva, cada dia mais.
Já paguei minha divida com as saudades, já não quero mais doer.
Quero o gozo infindo, aquele que parece a morte.
E acordar em outros braços.
Felicidade.
Não é alegria.
Não é estar apaixonada.
Não é acreditar que é retribuida.
É tanta coisa, e não é descritível.
É crível, só isso.
Palpável.
É se bastar, mas ter espaço para o outro, para os outros, para a preocupação e o cuidar, para o compartilhar e o dividir, para o egoísmo e o altruísmo.
Eu sou boa.
Quis ser má, quando foram maus comigo.
Mas essa não sou eu.
Quando chega a vazante, eu sou de Câncer.
Tenho minhas memórias e meu aconchego.
E tenho meu sorriso.
A vida segue.
(e para fazer invejinha, que sou boa mas não sou santa, mando uma fotinha de um momento de felicidade simples, ao lado de Renato Teixeira e Almir Sater, depois do show em BH)
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Depois do show, a gente segue, tocando em frente
Eu sei… que nada sei…